domingo, 2 de fevereiro de 2014

A arquitectura da alma

 

De vez em quando protestava em silêncio, hoje não consigo mais esconder de mim próprio a falta de benevolência que a minha alma tem para comigo. As almas são como que efectivas esponjas do certo e do errado que ladeia a nossa vida. Absorvem coisas más, péssimas terríveis, que de modo seguro a infectam, precisando para manter a sua correcta e sã textura de elevadas vivências, já agora, santas e puras. O que não quer dizer que o input tenha que ser igual ao output. Não, de todo! Longe disso! A alma para se manter animada precisa de um ínfima parte de bem relativamente a um todo de mau. Nunca efectuei um estudo aturado quanto a esta matéria, mas diria que alma precisa de uma parte de vinte para que a sua elasticidade e vigor se mantenham. Claro que, ainda que a alma tenha uma correcta proporção dos elementos enunciados, ainda assim precisa de ser exercitada. Ao exercitar-se a alma, hoje, através dos correctos exercícios, espirituais e carnais, sim porque a proteína carnal também alimenta a alma, consegue-se, em alguns casos alcançar uma maior vida eterna. Uma maior vida eterna, dizem vós? Sim uma maior vida eterna! Não foi um lapso é uma realidade absoluta.
 
“Dejalo si quieres continuar (hermano)
Sal ilumina tu vida
Todo el cielo aplatandote
Dime que hars (intentalo)
Ilumina ese amor
Antes que se vaya
Algo siempre te entristese
Cuando todo va bien
Que pasa contigo?
Algo siemre te entristese
Cuando todo va bien
Que pasa contigo?
Que pasa contigo?
Dejalo si quieres continuar
No ocultes tu alma al sol
Tienes una vida preciosa
De que sirve si solo
Mueres suavemente”


Desculpem a perturbação, desde há uns dias a minha alma sintoniza-se com a América Latina, escutando as súplicas, preces e orações de almas tresmalhadas em galhofeira agonia. Ligo-me, involuntariamente a elas, e só quando a carga edílica cessa, é que consigo retornar aos meus pensamentos pessoais. Sinal evidente de que o meu input negativo já ultrapassou o ponto anterior ao ponto de não retorno! Não enunciei anteriormente que a alma quando está em absoluta carga negativa, alterando a sua forma óptima, tem tendência para se tornar viciada em cargas negativas, acabando, a final, por se tornar num áspero e desgastado espírito. Todas as almas têm naturalmente essa propensão, razão pela qual, eu tenha referido que uma alma optimizada tenha uma maior vida eterna. A manutenção da alma em vida eterna advém sem dúvida alguma do estado em que a sua santidade é inatacável. Muitas almas, acredito que a maior parte até, conquistam a vida eterna no Paraíso, mas a sua resistência à eternidade depende, em muito, da sua manutenência em santidade. Se na terra o input do bem é efémero, no Céu este é total. Se alma não mantiver todas as suas as carótidas em estado impecável, e viçosa elasticidade (que advém de um correcto e doseado exercício, como se viu) torna-se preguiçosa. Ora, como não poderia deixar de ser, uma alma preguiçosa deixa de ser santa, pelo que não poderá viver em santidade e terá que, necessariamente, abandonar a santa vida eterna. Sendo transferidas para o Purgatório vivendo sob condição e sujeitando-se a ora a um processo de purificação ou a um castigo temporário (depende proveniência da alma e do estado em que esta se encontra) para serem então amanhadas, as necessárias vezes, até que estejam prontas a reconquistar o reino dos céus (a vida eterna, necessariamente no Paraíso). As que não que não conseguem suportar, em alguns casos, o exasperante tempo necessário à sua elevação ao Paraíso, são levadas ao Inferno para que este, através de eivados e complexos processos de incineração, as reacondicione ao seu estado mais ínfimo de modo a que renasçam, por incorporação, num qualquer nascituro. Quando popularmente se diz que “aquela criança parece que tem o diabo no corpo”, nada é mais acertado, pois a alma fazia pouco tempo atrás ainda estava no referido processo de reciclagem.
“Que pasa?
Que pasa contigo?
Que pasa contigo?
(Mi hermano)
Que pasa contigo?
Escucha a tu propia voz
Salva tu amor
Que pasa contigo?
Antes que se vaya
Si todo va bien
Que pasa contigo?
Que pasa contigo?
Mirate a ti mismo
Enfrentalo
Que pasa contigo?
Mi hermano
Ven animate
Que pasa contigo?”
As perturbações e as involuntárias sintonias américo latinas continuam e agravam-se, antes estas, em que sempre entendo algo, que as anteriores, que penso, provenientes do leste da Europa, em que alcançava a sua dor, mas não necessariamente o seu conteúdo. Desculpem-me todo este desabafo, e a introspectiva enxurrada de concepções acerca da alma, mas sinto-me agastado, e sem lugar na minha alma, para guardar tantos pecados e dúvidas que me fazem, quase que obrigatoriamente, conhecer. Hoje, ao contrário de outros tempos, sinto que os paroquianos já não vêm à igreja confessar-se para serem ajudados na sua purificação, mas antes para me transferirem os seus pecados.
Chamo-me António Ribeiro, sou eclesiástico, faz oito anos, e hoje, como em todos os dias, é dia do Sacramento da Confissão e a meu cargo tenho quatro paróquias.
E este é o meu actual estado de alma!
 
P.S. Música de Gorillaz - Latin Simone (Que Pasa Contigo?)
 
 

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